Nikolas
Corrent
A palavra gênero advém do latim genus, sendo traduzido como tipo,
nascimento ou família. A historiadora e teórica feminista Joan Scott (1990)
comenta que na contemporaneidade, o termo gênero é designado como um sinônimo
de mulheres por alguns pesquisadores. Elucida que a substituição deste se
emprega devido ao gênero desempenhar “uma conotação mais objetiva e neutra”
quando comparado a palavra “mulheres” (SCOTT, 1990). Isto posto,
[...]
o termo "gênero" não implica necessariamente uma tomada de posição
sobre a desigualdade ou o poder, nem tampouco designa a parte lesada (e até
hoje invisível). Enquanto o termo "história das mulheres" proclama
sua posição política ao afirmar (contrariamente às práticas habituais) que as
mulheres são sujeitos históricos válidos, o termo "gênero" inclui as
mulheres, sem lhes nomear, e parece, assim, não constituir uma forte ameaça
(SCOTT, 1990, p. 75).
Doravante o supracitado pela autora,
percebe-se que a transferência de mulheres para gênero alude em uma construção
social que viabiliza igualar homens e mulheres. Segundo a historiadora Louise
Tilly (1994), o emprego do gênero como uma categoria conceitual além de
promover esta igualdade, visa proporcionar “[...] o acesso das mulheres tanto à
autonomia individual quanto ao poder político e econômico” (TILLY, 1994, p.
43), Scott em contraposição à Tilly reitera que o termo gênero denota que uma
informação a respeito da mulher é relativamente a respeito do homem, isto é, um
estudo acerca de um, possui analogia com o outro. Desse modo, emprega-se o
termo visando associar as mulheres aos homens, onde “[...] o mundo das mulheres
faz parte do mundo dos homens, que ele é criado nesse e por esse mundo
masculino” (SCOTT, 1990, p. 75). Evidencia-se então, que o estudo acerca das
mulheres deve necessariamente estar inserido no contexto dos homens,
correlacionando às relações de poder, onde as mulheres tornam-se dependentes
dos homens por meio do patriarcalismo, o qual define o homem como superior a
mulher.
Regressando à construção social, esta é
fundamentada nas diferenças notáveis entre os sexos, nas quais são
estabelecidas culturalmente no íntimo da sociedade, sendo capazes de variar de
uma para outra. Entretanto, o gênero como uma categoria de análise consiste em
uma interpelação utilizada em torno da década de 80, anos em questão
assinalados pelo imperativo de introduzir novos conceitos, nos quais visavam à
busca da legitimidade acadêmica pelas pesquisas feministas.
De acordo com a professora e
historiadora Joana Maria Pedro (2005), a utilização de gênero como um novo
conceito deve-se às linguagens, tendo em vista que os seres animados e
inanimados da língua portuguesa, independente de possuírem um sexo biológico,
apresentam um gênero. Assim sendo, “[...] era justamente pelo fato de que as
palavras na maioria das línguas têm gênero, mas não têm sexo, que os movimentos
feministas e de mulheres, nos anos oitenta, passaram a usar esta palavra
‘gênero’ no lugar de ‘sexo’” (PEDRO, 2005, p.78). A autora complementa que por
meio deste contexto, os estudiosos do período buscavam “[...] reforçar a idéia
de que as diferenças que se constatavam nos comportamentos de homens e mulheres
não eram dependentes do ‘sexo’ como questão biológica, mas sim eram definidos
pelo ‘gênero’ e, portanto, ligadas à cultura”. (PEDRO, 2005, p. 78).
Nessa perspectiva, o conceito de gênero
designa uma construção social na qual estabelece as identidades subjetivas de
mulheres e homens, ou seja, a concepção de gênero distingue-se do sexo
biológico, o qual se define por um emaranhado de características estruturais e
funcionais, pelas quais classificam um indivíduo como macho ou fêmea. O gênero
se emprega, de acordo com Scott (1990, p. 75) como “[...] uma categoria social
imposta sobre um corpo sexuado”, o qual “[...] oferece um meio de distinguir a
prática sexual dos papéis atribuídos às mulheres e aos homens”. A autora
reitera mais adiante, definindo o gênero em duas conjecturas, sendo “[...] um
elemento constitutivo de relações sociais baseadas nas diferenças percebidas
entre os sexos” e “[...] uma forma primária de dar significado às relações de
poder” (SCOTT, 1990, p. 86).
Em síntese, o gênero não se refere às
particularidades biológicas sexuais, no entanto, alude às diferenças sociais e
culturais entre homens e mulheres, permeadas pelas relações de poder. Dessa
forma, na concepção de gênero o indivíduo não vem ao mundo sendo homem ou
mulher, como determina o sexo biológico, mas ele estrutura-se em um processo
onde é viabilizado o ato de tornar-se mulher ou tornar-se homem. Surge assim, a
identidade de gênero, onde o indivíduo identifica-se como sendo do gênero
masculino ou feminino, independente de seu sexo biológico. Complementando,
Aurélio Buarque de Holanda Ferreira em Míni
Aurélio: o dicionário da língua portuguesa (2010, p. 376), define o gênero
sendo “[...] a forma como se manifesta, social e culturalmente, a identidade
sexual dos indivíduos”. Assim, percebe-se que o gênero, bem como sua
identidade, associa-se ao comportamento de um indivíduo perante a sociedade na
qual se estabelece.
Acerca das variações entre o gênero e o
sexo biológico, com raras exceções sabe-se que existem dois sexos, o feminino e
o masculino, para determiná-los verifica-se algumas características físicas,
sobretudo a genitália de ambos. Doravante uma análise destes órgãos íntimos, o
indivíduo passa a caracterizar-se como fêmea ou macho, conforme citado
anteriormente. O gênero, diferentemente do sexo biológico, denota condições
psicológicas, sociais e culturais, pelas quais configuram o indivíduo como
feminino ou masculino. Dessa forma, evidencia-se que a quantidade de
feminilidade e masculinidade encontrada no indivíduo, identifica seu gênero
sexual. Em síntese, o que caracteriza o gênero de um indivíduo é o seu grau de
masculinidade ou feminilidade, resultando em sua identidade de gênero, isto é,
o “sentir-se homem” e o “sentir-se mulher”. O gênero indica-se como mais
importante quando comparado as características anatômicas, tendo em vista que o
sexo biológico é algo invisível, enquanto a identidade de gênero torna-se
visível, com as linguagens e a vestimenta empregada.
Complementando, Scott (1990, p. 86-87)
afirma que “[...] o gênero implica quatro elementos interrelacionados”, sendo
eles: os símbolos culturais, produtores de inúmeras significações, bem como
“Eva e Maria como símbolos da mulher [...] na tradição cristã ocidental”; os
conceitos normativos, os quais compreendem não somente as leis e regras, mas
também as “[...] doutrinas religiosas, educativas, científicas, políticas ou
jurídicas” (SCOTT, 1990, p. 86-87); as instituições, como escolas e igrejas; e
as identidades subjetivas e genéricas, nas quais constituem o indivíduo.
Conforme os elementos destacados por Scott, temos a composição do gênero nos
indivíduos.
A HISTÓRIA NAS RELAÇÕES DE GÊNERO
Constata-se
que a história contribui para a expansão do conhecimento de cada indivíduo,
atuando como promotora e detentora de informações globais, sobretudo acerca da
sociedade e sua cultura. De acordo com o historiador Boris Fausto em sua obra História do Brasil (1995),
[...]
a História é uma disciplina acessível a pessoas com diferentes graus de
conhecimento. Mais do que isso, é uma disciplina vital para a formação da
cidadania. Não chega a ser cidadão quem não consegue se orientar no mundo em
que vive, a partir do conhecimento da vivência das gerações passadas (FAUSTO,
1995, p. 13).
Diante do exposto, evidencia-se a
relevância desta ciência para a sociedade, visto que a investigação dessa
disciplina apresenta-nos subsídios para que possamos compreender melhor as
relações de gênero. Dessa maneira, regressaremos aos estudos realizados por
Joan Scott, a qual por meio da história busca analisar e compreender as
relações supracitadas. Consonante, Scott entende que a “[...] história é tanto
objeto da atenção analítica quanto um método de análise. Vista em conjunto
desses dois ângulos, ela oferece um modo de compreensão e uma contribuição ao
processo através do qual gênero é produzido” (SCOTT, 1994, p. 13-14). Assim
sendo, fundamentados na história, alcançaremos tal compreensão acerca da construção
das relações entre os gêneros.
Defensora do pós-estruturalismo, Scott
concebe esta teoria como uma fonte de rompimento com as arcaicas tradições, as
quais definem a sociedade de forma hierárquica. Dessa maneira, o
pós-estruturalismo apresenta concepções alternativas acerca do gênero,
possibilitando essa ruptura com o remoto e indagando novos significados nas
relações de poder. Sintetizando, “[...] o pós-estruturalismo e o feminismo
contemporâneo são movimentos de fins do século XX que compartilham uma certa
relação crítica autoconsciente diante das tradições política e filosófica
estabelecidas” (SCOTT, 2000, p. 204). A autora complementa situando o
imperativo em explorar tal relação.
A história das mulheres se estabelece
como um “[...] agente político no qual desafia as premissas pré-estabelecidas,
questionando a primazia concebida ao homem, em oposição às mulheres” (SCOTT,
1994, p. 81-83). Logo, evoca uma contribuição ao advento do movimento das
mulheres nos anos de 1970, no qual, sendo de caráter feminista, buscava
contemplar a igualdade entre os gêneros, bem como impugnar as raízes culturais
que permeiam nesta desigualdade. Para Pedro,
O
uso da categoria de análise “gênero” na narrativa histórica passou a permitir
que as pesquisadoras e os pesquisadores focalizassem as relações entre homens e
mulheres, mas também as relações entre homens e entre mulheres, analisando
como, em diferentes momentos do passado, as tensões, os acontecimentos foram
produtores do gênero (PEDRO, 2005, p. 88).
Conforme a afirmação da autora, no
decurso da história nos deparamos com distintos acontecimentos dentre os quais
refletiram nas relações de gêneros perante a sociedade, sobretudo, determinaram
influências nas desigualdades entre estes. No período neolítico, os indivíduos
principiaram a produção de seus alimentos, concomitantemente, é neste ínterim
que se estabelecem as funções de homens e mulheres nas civilizações antigas. A
divisão sexual do trabalho era contemplada pela capacidade de reprodução das
mulheres, as quais mantinham-se restritas ao ambiente e ao trabalho doméstico,
evidenciando-se os cuidados com a casa e com seus provenientes. O ato de
‘cuidar’ se perpetuou como uma função relativa às mulheres da época, as quais
devido às suas capacidades reprodutoras possibilitaram a reprodução da
subordinação aos homens, sendo cognominados como os patriarcas. Instala-se
assim, o sistema patriarcalista, estabelecendo as desigualdades presentes nas
relações de gênero, pelo qual emana um sistema de dominação influente na
contemporaneidade.
De acordo com Scott, as feministas
“teóricas do patriarcado” buscam elucidar as procedências deste, visando
encontrar uma “[...] explicação dessa subordinação na ‘necessidade’ masculina
de dominar as mulheres” (SCOTT, 1990, p. 78). Acerca deste contexto, a
reprodução é considerada a “chave” desse sistema, tendo em vista que a
descoberta da contribuição do homem no processo de reprodução instaurou o
conceito de que as mulheres, assim como seus herdeiros, eram subordinadas aos
homens, os quais tornaram-se a “fonte” da procriação. Scott (1990, p. 78)
acrescenta que “[...] o princípio da continuidade geracional restaura a
primazia da paternidade e obscurece o trabalho real e a realidade social do
esforço das mulheres no ato de dar à luz”. Posto isso, estabeleceu-se uma
superioridade paterna devido à sua contribuição na fecundação. Além da
reprodução, algumas pesquisadoras feministas atribuem a sexualidade ao
patriarcalismo. Destarte, a mulher evidencia-se como uma fonte de prazer ao
homem, sendo novamente, um sujeito subordinado ao patriarca.
Doravante a Revolução Industrial, as
mulheres de classe baixa inserem-se ao contexto fabril, entretanto, não abdicam
das obrigações domésticas, sendo submetidas a uma jornada de trabalho dupla,
isto é, desempenha suas funções em fábricas além daquelas exercidas no âmbito
familiar, conforme citado no parágrafo anterior. O desenvolvimento das
indústrias, em meados do século XVIII e XIX, resultou nos conflitos sociais
enfocados nas relações de gêneros, tendo em vista que se estabeleceram neste
período as desigualdades trabalhistas. Desse modo, a mão de obra feminina foi
incorporada à masculina. Esse fator emanou a insatisfação dos homens, dentre os
quais alegavam que as mulheres ocupavam seus postos de trabalho, enquanto que
estas padeciam com as desigualdades salariais. A industrialização em conjunto
ao sistema capitalista introduziu as mulheres no mundo do trabalho, entretanto,
ensartou a luta entre os gêneros conforme o exposto. Diante disso, as mulheres depararam-se
com uma nova desigualdade enfrentada por meio de salários menores quando
comparado ao dos homens. Segundo Scott (1990, p. 78), as feministas marxistas
atribuem esta “[...] divisão sexual do trabalho sob o capitalismo” como
consequência às suas funções reprodutoras.
Perante o século XIX e após as
ideologias difundidas na Revolução Francesa, o movimento das mulheres almejava
por melhorias nas condições de trabalho, pleiteando seus direitos trabalhistas,
sobretudo a uniformidade no expediente de trabalho. Ademais, requeriam o
direito ao voto e a candidatura aos cargos públicos, os quais restringiam-se
apenas aos homens, principalmente os mais abastados. No século subsequente, o
feminismo – denominação do movimento das mulheres - revigorou-se, desempenhando
inúmeros protestos organizados na intercessão de seus direitos. Essas
manifestações alentaram às mulheres a delatar a sujeição pela qual eram
acondicionadas e que se evidenciava em diversos âmbitos da vida, bem como o
familiar, o político, o social, o cultural e, dentre outros.
RELAÇÕES
DE GÊNERO, PODER E SUBJETIVIDADE
Essa pesquisa não propende abordar
especificamente os movimentos feministas ao longo da história, entretanto,
expusemos sucintamente alguns aspectos visando esclarecer as relações entre os
gêneros. A partir das considerações, evidencia-se que subordinação da mulher é análoga
às relações de poder, ou seja, os homens apropriam-se do poderio que lhes
compete nas relações sociais e dominam as mulheres. Dessa maneira, a mulher
torna-se símbolo de responsabilidade pelos ensinamentos dos filhos e dos
cuidados com o domicílio. O comando sobre o recinto doméstico incide em um dos
pontos centrais onde as mulheres desenvolvem seus subterfúgios de antagonismos
e resistência à dominação masculina. Esta dominação masculina segundo o
sociólogo Pierre Bourdieu,
Constitui as mulheres como objetos
simbólicos, cujo ser (esse) é um
ser-percebido (percipi), tem por
efeito colocá-las em permanente estado de insegurança corporal, ou melhor, de
dependência simbólica: elas existem primeiro pelo, e para, o olhar dos outros,
ou seja, enquanto objetos receptivos, atraentes, disponíveis. Delas se espera
que sejam "femininas", isto é, sorridentes, simpáticas, atenciosas,
submissas, discretas, contidas ou até mesmo apagadas (BOURDIEU, 2012, p. 82).
Na ótica do exposto, a mulher é
limitada pelo homem, o qual constrói uma subjetividade feminina fundamentada em
seus princípios masculinos. A respeito da subjetividade, esta incide na
personalidade do ser humano, estruturando seu modo de agir e pensar. Para o
filósofo Michel Foucault, a subjetivação consiste em um “[...] processo pelo
qual se obtém a constituição de um sujeito, mais precisamente de uma
subjetividade, que evidentemente não passa de uma das possibilidades dadas de
organização de uma consciência de si” (FOUCAULT, 2004, p. 232).
Outro filósofo que disserta acerca da
subjetividade é Félix Guattari, o qual afirma que ela incide em um “[...] conjunto das condições que torna possível
que instâncias individuais e/ou coletivas estejam em posição de emergir como
território existencial auto-referencial, em adjacência ou em relação de
delimitação com uma alteridade ela mesma subjetiva” (GUATTARI, 2000, p.
19). Assim sendo, a subjetividade
manifesta-se individualmente ou coletivamente, isto é, o indivíduo faz escolhas
por si só ou, baseado nas esferas coletivas, bem como a que é imposta pela
dominação masculina.
A construção da subjetividade se
estabelece na relação com o externo, ou seja, por meio do contato com os outros
indivíduos e com o mundo, estando introduzidos em uma mesma conjuntura e em um
assinalado período sócio histórico. Nesse procedimento de construção da
subjetividade, são agregados, devido a influência da cultura, distintos
hábitos, princípios, valores e costumes, assim como as linguagens, os
arquétipos de comportamento e os modelos estéticos. Nesse segmento, o individuo
é vítima dos contatos sociais, tendo em vista que é por meio desses que a
construção se efetiva. Dessa maneira, assimilamos a nossa subjetividade por
meio do âmbito familiar, escolar e, inclusive, por intermédio dos meios de
comunicação.
Portanto, temos que a subjetividade
feminina é construída em tempos remotos por meio da dominação masculina. Isto
é, agentes externos subjetivam a mulher. A histerização da mulher é resultado
desta subjetivação patriarcalista, a qual sobrepõe a mulher, de acordo com
Foucault a uma
[...] comunicação orgânica com o corpo
social (cuja fecundidade regulada deve assegurar), com o espaço familiar (do
qual deve ser elemento substancial e funcional) e com a vida das crianças (que
produz e deve garantir, através de uma responsabilidade biológico-moral que
dura todo o período da educação): a Mãe, com sua imagem em negativo que é a
"mulher nervosa" (FOUCAULT, 1988, p. 98).
Assim sendo, as concepções do
patriarcalismo criam uma nova identidade às mulheres, as quais se tornam
submissas a esse sistema aderindo a subjetividade imposta. O corpo feminino,
consoante Foucault (1988, p. 101) torna-se um “[...] elemento nas relações de
poder”.
Doravante às manifestações feministas,
a subjetividade da mulher buscava contrapor a esta sujeitada pelo masculino.
Dessa forma, segundo a historiadora Margareth Rago, o feminismo
[...] abriu mão do corpo, da beleza, da
estética e da moda, considerados reificadores, apropriando-se paradoxalmente do
modo masculino de existência que questionava e, ao mesmo tempo, desconstruía. A
feminista apareceu, então, na figura da “oradora”, da mulher que rompe o espaço
público e toma a palavra, denunciando e revolucionando como os homens (RAGO,
2004, p. 283).
Diante
disso, em meio às revoluções de âmbito feministas, as mulheres apresentavam uma
subjetividade na qual não seriam mais subordinadas aos ideais masculinos, como
anteriormente, mas a partir de agora, identificavam-se como detentoras da
autonomia, sendo libertas para optarem por suas próprias escolhas, bem como
serem independentes dos homens, opondo-se assim, “[...] à figura conservadora e
santificada da ‘mãe’” (RAGO, 2004, p. 283), a qual era enaltecida pelos
patriarcas. A respeito dessa nova subjetividade impulsionada pelo feminismo,
Rago (2004) complementa que as mulheres difundiram “[...] novos padrões de
corporeidade, beleza, cuidados de si, propondo outros modos de constituição da
subjetividade” (RAGO, 2004, p. 283-284), uma vez que as feministas preocupam-se
“[...] tanto com o refinamento do espírito, quanto com a beleza corporal, a
saúde, a agilidade, a elegância e a moda, na construção de si e de uma nova
ordem social e sexual” (RAGO, 2004, p. 283-284).
O triunfo do feminismo resultou nessa
construção de uma nova subjetividade feminina, a qual empenhou-se pela “[...]
libertação das formas de sujeição impostas às mulheres pelo patriarcalismo”
(RAGO, 2004, p. 284). Desse modo, o processo construtivo da subjetividade feminina
é resultado de dois princípios essenciais, o sistema patriarcalista e os
movimentos feministas. Em suma, o patriarcalismo reflete no entendimento social
acerca da representação da mulher no âmbito coletivo, pelo qual subestima-se as
potencialidades femininas e o consentimento da arcaica segmentação dos postos
de trabalho segundo o sexo biológico e, por conseguinte a clássica função das
mulheres no contexto doméstico e na sociedade.
Os movimentos feministas concretizaram
uma nova subjetividade para a mulher, visto que, na era de permanência do
sistema patriarcalista, a luta feminista não se restringiu somente à igualdade
por seus direitos, contudo, empenharam-se pela libertação dos estereótipos
pré-estabelecidos socialmente por meio dos patriarcas, sobretudo na condição
feminina que as idealizaram como seres passivos e frágeis. Assim sendo, a
subjetividade da mulher se desprende dos padrões patriarcalistas, concedendo a
ela uma nova identidade.
REFERÊNCIAS
Mestre em História (2019) pela da
Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). Membro do grupo de Estudos
em História Cultural da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO).
Graduado em Pedagogia (2019) pelo Centro Universitário Internacional (UNINTER),
Filosofia (2018) pelo Centro Universitário de Araras Dr. Edmundo Ulson (UNAR),
História (2016) pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) e Ciências Sociais
(2015) pela Faculdade Guarapuava (FG). Especialista em Docência do Ensino
Superior (2018) e Educação a Distância com Ênfase na Formação de Tutores (2018)
pela Faculdade São Braz (FSB); Gestão da Educação do Campo (2017) pela
Faculdade de Administração, Ciências, Educação e Letras (FACEL); Educação
Especial e Inclusiva (2016), Metodologia do Ensino de Filosofia e Sociologia
(2016) e Ensino Religioso (2015) pela Faculdade de Educação São Luís (FESL).
Professor de Sociologia contratado pela Secretaria de Educação do Estado do
Paraná e leciona as disciplinas de Filosofia, História e Sociologia no Colégio
Imaculada Virgem Maria e Sociologia no Colégio São José. Tem experiência na
área de História, atuando nos seguintes temas: Imigração, Identidade, Cultura,
Mulheres, Memória e História oral.
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a Televisão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
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FAUSTO, Boris. História do Brasil. 2. ed. São
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____________. História da sexualidade I: A vontade de
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____________. O sujeito e o poder. In H. Dreyfus & P.
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GUATTARI, Félix. Heterogênese. In Félix. Guattari
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TILLY,
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Parabéns pelo artigo maravilhoso.
ResponderExcluirNão possuo perguntas, mas gostaria de registrar que a fala de Fausto utilizada no texto “Não chega a ser cidadão quem não consegue se orientar no mundo em que vive, a partir do conhecimento da vivência das gerações passadas (1995, p. 13)” é mais que acertada para descrever a importância da disciplina em nossa sociedade. Na obra Educar pela Sociologia: contribuições para a formação do cidadão da RHJ (2012) há uma passagem muito parecida, mas sob o viés sociológico, com a fala de Fausto: [...] ser cidadão, mais do que estar contido na sociedade, é, fundamentalmente, contê-la, no sentido de que o indivíduo só pode se sintonizar com as necessidades de uma sociedade na medida em que toma consciência do todo de que se faz parte (GUIMARÃES NETO et al, 2012, p.23) que demonstra como nossas vidas estão interligadas numa teia, tecida nas relações sociais em processos complexos que precisam ser discutidos pois nos auxiliam a compreender a sociedade em que vivemos.
A escolha de Bourdieu para referenciar o texto, além de outros autores, é mais que acertada também, pois para ele “A sexualidade, tal como a entendemos, é efetivamente uma invenção histórica, mas que se efetivou progressivamente à medida que se realizava o processo de diferenciação dos diferentes campos e de suas lógicas específicas” (pp. 122-123, 2002), ou seja, é uma construção sócio histórica, fomentada e reproduzida pelos agentes que compõem essa coletividade.
=)
Boa noite, Talita!
ResponderExcluirConheço você de alguns textos sobre imigração ucraniana que usei na escrita da minha dissertação.
Obrigado pelas considerações!
Atenciosamente,
Nikolas Corrent
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOla Nikolas! Belo texto...
ResponderExcluirUm parágrafo me chamou bastante atenção:
" A partir das considerações, evidencia-se que subordinação da mulher é análoga às relações de poder, ou seja, os homens apropriam-se do poderio que lhes compete nas relações sociais e dominam as mulheres. Dessa maneira, a mulher torna-se símbolo de responsabilidade pelos ensinamentos dos filhos e dos cuidados com o domicílio".
Partindo-se dessa ideia de supremacia do gênero masculino em detrimento do feminino devido as construções sociais, políticas e culturais. Gostaria de questionar, diante do crescimento dessa produção de estudos de gêneros, como está construcao da narrativa da mulher como refém "dos filhos, marido e do lar" se reformula diante das novas visoes dadas pela História das Mulheres?
Estudos estes que ousam em traçar uma história para as mulheres, reconhecendo as táticas e estratégias de resistência e conquista da autonomia dessas mulheres, cujas contribuições históricas precisam ser evidenciadas cada vez mais!
Marcos de Araújo Oliveira
Bom dia, Marcos. Obrigado pelas suas considerações e questionamento.
ExcluirQuando constatamos que a mulher fica presa mesmo não estando no lar, é pelo simples
fato que, antigamente o homem trabalhava, a mulher cuidava da casa, hoje os homens
trabalham, e as mulheres trabalham e cuidam da casa.
Refletir sobre a construção de uma História das Mulheres implica perceber que os modelos de ser “homem” e ser “mulher”, os direitos femininos e vários outros aspectos relacionados às construções de gênero e identidades, passaram por transformações ao longo da história, e contribuíram para o aumento da discriminação e dos preconceitos contra as mulheres e contra todos aqueles que não correspondem a um ideal de masculinidade dominante. A naturalização de atos, atitudes, valores e crenças atribuídas às mulheres na historiografia oficial contribuíram para uma visão da figura feminina submissa, e que a impedem de obter acesso social e político.
Até mais, sucesso!
Comentário de: Nikolas Corrent