AS CONTRIBUIÇÕES DE PAULO FREIRE PARA O ENSINO DA HISTÓRIA

ALINE NUNES RANGEL


Os estudos de Paulo Freire trouxeram o estímulo a uma educação de fato problematizadora e conscientizadora, recusando a educação “bancária”, que se utilizava do “depósito de conhecimento” nos estudantes. A Pedagogia Crítica propõe problematizar os fatos históricos, utilizando a reflexão para compreender criticamente a História.

“Neste sentido, a educação libertadora, problematizadora, já não pode ser o ato de depositar, ou de narrar, ou de transferir, ou de transmitir “conhecimentos” e valores aos educandos, meros pacientes, à maneira da educação “bancária”, mas um ato cognoscente.” (FREIRE, 1987, p. 44).

O estudante, sendo um ser cognoscente, que conhece ou que tem a capacidade de conhecer, de aprender, não pode ser considerado um indivíduo incapaz. Os estudantes podem e devem identificar o contexto histórico no estudo da História e refletir criticamente sobre os fatos históricos estudados no ambiente escolar.

Para isso, faz necessário reconhecer a importante contribuição de Paulo Freire para se pensar a educação no Brasil. Entre essas contribuições pode-se destacar a importância de valorizar a realidade do aluno e entender que o mesmo, não é uma folha em branco, que o estudante também trás consigo conhecimentos próprios, adquiridos durante a vida.

Os conhecimentos da vida cotidiana dos estudantes devem ser valorizados na hora de fazer a transposição didática nas aulas de História. Na transposição didática, é preciso mostrar ao estudante que os conteúdos têm ligação com o nosso dia a dia, para que os mesmos vejam sentido em estudar a História. Conscientizar nossos estudantes que é preciso romper com o sistema opressor, promovendo a leitura, a interpretação, o diálogo, a reflexão e a crítica, diante do que está acontecendo no mundo.

Conscientização nas palavras de Paulo Freire, “é um compromisso histórico. É também consciência histórica: é inserção crítica na história, implica que os homens assumam o papel de sujeitos que fazem e refazem o mundo.” (FREIRE, 1979, p. 15).

Sendo assim, é notório que a Pedagogia Crítica contribuiu para fortalecer a ideia de que o professor sozinho não detém o conhecimento. O professor e o educando, produzem conhecimentos juntos, dialogando e estudando a História, problematizando o contexto e o fato histórico estudado, transformando assim, a realidade a sua volta.

“O conhecimento é entendido pela Educação Problematizadora como um recriar constante, jamais estático (a ideia de que ensinar é transmitir conhecimentos é radicalmente refutada); é resultado da busca determinada, da aplicação da curiosidade sobre o objeto, adquirindo um valor social. Deve pertencer aos homens e às mulheres em geral, servindo para promover o bem comum.” (PITANO, 2017, p. 91).

A Pedagogia Crítica não resolve todos os problemas da educação no Brasil e Paulo Freire não é o “salvador da pátria”. Mas é amplamente reconhecido no Brasil e em diversos países como um grande educador, que incentivou e ainda incentiva a buscar uma educação conscientizadora, crítica e reflexiva.
E as contribuições de Freire foram e ainda são de grande importância para o estudo da História, já que a mesma promove pensar o nosso passado, problematizando e criticando seus reflexos no nosso presente. Não é possível promover uma educação de qualidade, sem problematizar os fatos históricos e sem conscientizar nossos estudantes, sobre as mudanças que podem ser realizadas em nossa sociedade, enquanto sujeitos históricos.

REFERÊNCIAS:

Aline Nunes Rangel. Professora do Ensino Fundamental II. Licenciada em História pela Universidade do Estado da Bahia. Especialista em História das Culturas Afro-brasileiras e em Educação de Jovens e Adultos. E-mail: alinenunesrangel@yahoo.com.br

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido: 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

______. Conscientização. Teoria e prática da libertação. Uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Cortez & Moraes, 1979.

PITANO, Sandro de Castro. A Educação Problematizadora de Paulo Freire, uma Pedagogia do Sujeito Social. Disponível em: https://www.revistas.ufg.br/interacao/article/view/43774 - Acesso em: 21 de janeiro de 2019.

9 comentários:

  1. Olá, Aline Rangel. Parabéns pelas discussões iniciais. É muito importante refletirmos sobre a relação História e Pedagogia, principalmente porque nossa atividade enquanto historiador consiste em ensinar e problematizar a história. Para você, por que Paulo Freire se transformou em um referencial para o ensino de história?

    Megi Monique Maria Dias

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  2. Boa noite, Megi. Agradeço a interação.

    Na minha opinião, Paulo Freire e sua Pedagogia Libertadora trás uma grande contribuição para o ensino da História, principalmente quando se pensa uma educação crítica, reflexiva e que propõe uma mudança na realidade social.
    Paulo Freire se mostra um referencial para o estudo da História, por que o mesmo acreditava que só uma educação de fato libertadora, ou seja, que problematize os conteúdos, aponte as contradições existentes na sociedade, podem provocar mudanças significativas para os oprimidos.
    Pensar a História é justamente refletir sobre os fatos históricos, compreender as contradições, criticar e formular argumentos, elaborando assim um pensamento crítico e consciente, diante dos estudos realizados.
    A Pedagogia Crítica freireana vem justamente contribuir para o estudo da História, já que a mesma, propõe compreender os fatos históricos de forma crítica e reflexiva, interpretando e buscando não repetir os erros do passado, como a opressão aos grupos menos favorecidos de nossa sociedade.

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  3. Boa noite Aline Rangel! Sua discussão é bastante interessante e atual tendo em vista que, o posto de Paulo Freire enquanto patrono da educação foi colocado a risca no governo vigente brasileiro. Paulo Freire publicou em vida a obra "Pedagogia da autonomia" (1996), fazendo uma crítica as formas de ensino tradicionais, autoritária, conservadora, que não permite a curiosidade (fator importante para o desenvolvimento da criticidade), que foi um dos focos da ditadura civil-militar (1964-1885). Freire defende uma pedagogia ética, respeitosa, digna e autonomia do educando, defendendo um ensino mais democrático entre educadores e educandos. Em Parauapebas-Pa, existem duas escolas de padrão militar que segue um ensino autoritário, além disso, o ensino de História está sendo bombardeado e alvo do governo vigente, minha pergunta se volta em quais metodologias utilizar as contribuições de Paulo Freire em uma educação crítica, principalmente em escolas privadas e públicas que seguem o ensino militar?

    Claudia Vanessa Brioso Santos.

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    1. Boa noite, Cláudia. Agradeço o interesse pela temática.

      Acho mto difícil opinar quando o assunto são escolas militares. Sem conhecer a realidade da unidade escolar, quem são os estudantes, professores, o regimento escolar e o PPP, fica realmente complicado opinar.
      No entanto, acredito que, se houver interesse, disposição e compromisso, a própria metodologia freireana pode ser utilizada em diferentes unidades escolares, que tenham como objetivo, formar cidadãos autônomos, críticos e conscientes da realidade em que vivem.

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  4. Bom dia, Aline! Parabéns pelo texto! Gostaria de perguntar para você acerca do uso de fontes e discussão teórico-metodológicas em sala. Dá para pensar uma aula que apresente, não somente os conteúdos, mas a operação historiográfica por traz do conteúdo histórico, tendo como referencial pedagógico o Paulo Freire?

    A minha questão surge no seguinte sentido, atualmente o senso comum está tomado pela ideia de que a História é uma produção ideológica, ficcional. Confundem ela com jornalismo, literatura ficcional, entre outras coisas. De tal modo, que as pessoas já não conseguem identificar o que é uma fonte ou referencial teórico-metodológico. Assim sendo, tomam youtubers ou blogueiros, sem uma formação na área, como portadores da "verdade", que teria sido ocultada ou distorcida pelos historiadores.
    Desse modo, a ideia de "educação problematizadora" poderia ajudar nesse sentido, ensinando para os alunos sobre o que é uma fonte, como os historiadores trabalham com ela.

    Comentário: Jeferson do Nascimento Machado

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  5. Olá Aline

    Embora Paulo Freire seja merecidamente o patrono da educação brasileira, tal título em 2019 tentou ser revisto, justamente por um tipo de governo unilateral, sendo essa postura contraria a que propõe a pedagogia de Paulo Freire. Diante disso, como professores de História deverão atuar diante de um cenário que propõe uma história única, sem problematização? (esse cenário é o que vejo nesse momento no Brasil)

    Rodrigo dos Reis

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  6. Olá, Aline.
    Primeiramente parabéns pelo trabalho. Quais as possibilidades apontadas por Paulo Freire para o ensino de história diante dos desafios da contemporaneidade, especialmente os relacionados com a democracia e a construção da cidadania?

    Willys Soares da Silva

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    1. Boa tarde, Willys. Agradeço o interesse pelo interesse.
      Pensar a educação na Pedagogia Libertadora é pensar na formação de cidadãos conscientes e dispostos a mudar a realidade a sua volta.
      Para Paulo Freire a democracia e a cidadania são construídos levando em consideração que a construção de uma sociedade mais justa, parte de conscientizar os oprimidos sobre as injustiças sociais e as mudanças necessárias para um mundo mais justo e igualitário.

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  7. Olá, parabéns pelo trabalho. Quais pontos voce evidencia para que a didática de Paulo Freire no ensino na historia deve ser abordado em comunidades que nao tem acesso a uma educação de qualidade?

    Tayná de Souza Sampaio

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