Carlos Eduardo Nicolette
1. Introdução
Os primeiros engenhos do que hoje é o
Estado de São Paulo datam ainda do século XVII, com pequenos produtores de
aguardente e açúcar espalhados, principalmente, pela costa. Com o transcorrer
do século XVII e a expansão das trocas comerciais com outras províncias, houve
uma constante ocupação de terra no planalto paulista, aumento sua povoação e transformando
o espaço num ambiente de produção agrícola, ainda que voltado para os
alimentos. Durante todo o século XVIII, existem relatos da produção de açúcar
no Oeste Paulista, não mais apenas na região ao redor da cidade de São Paulo,
foi a vila de Itu que teve o maior desenvolvimento de sua produção. Contudo,
foi após o aumento da demanda pelo açúcar na Europa no fim do XVIII e a
revolução de escravos no Haiti (maior produtor de açúcar do mundo naquele
período) que foi criado o complexo açucareiro de São Paulo, no que foi chamado
posteriormente de Quadrilátero do Açúcar.
É nesse quadro histórico que entra a
vila de Campinas, a qual se tornou vila apenas em 1797, justamente pelo rápido
crescimento de sua economia baseada na lavoura canavieira. Apesar da montagem
do complexo canavieiro não ter sido, enquanto fato histórico, negligenciada
pela historiografia, é preciso salientar a inexistência de tratamentos mais
detidos em relação aos seus efeitos demográficos e do ritmo de crescimento das
escravarias a partir das listas nominativas de habitantes. O primeiro objetivo
deste texto é investigar as variações na demografia escrava de algumas senzalas
de Campinas, categorizando suas transformações para melhor analisá-las. O
segundo é comparar as mesmas escravarias durante 20 anos para perceber se
existe a possibilidade de manutenção dos mesmos cativos durante o período. Deve-se
reiterar que esta é uma pesquisa em andamento que possui resultados
preliminares e com intuito de serem discutidos e debatidos em eventos para seu
aperfeiçoamento, pois pretende-se, ao continuar desta pesquisa, estudar todas
as escravarias que alcançaram, entre 1790 e 1810, ao menos 30 cativos.
Este texto, deve-se salientar é uma
versão curta, porém mais refinada, advinda do debate realizado na apresentação
ocorrida 9º Encontro de Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional. Buscar-se-á,
assim, entender a formação das senzalas da vila que viria a ser o maior polo
econômico da primeira metade do século XIX em São Paulo e que faria nessa
província a transição da grande lavoura canavieira para o cultivo de café perante a discussão das continuidades dos
escravizados ou não nas mesmas senzalas. Como afirma Robert W. Slenes (1998, p.
17), é crucial estudar as transformações do regime demográfico escravo, pois
“açúcar e escravidão rapidamente tornaram-se praticamente ‘sinônimos’ em
Campinas e o crescimento da população cativa foi explosivo: em torno de 18% ao
ano entre 1789 e 1801, e 5% ao ano entre 1801 e 1829”.
A documentação base para o debate aqui
proposto é a lista nominativa de habitantes, também chamada de maços população,
fontes seriais valiosas que tem encontrado bastante adesão nas pesquisas
históricas feitas pelas universidades paulistas mineiras. É relevante discutir
rapidamente a confecção das listas nominativas. Para conhecer melhor a
população e organizar as tropas, Morgado de Mateus ordenou o início imediato do
levantamento populacional das vilas de São Paulo e da condição econômica de
cada vila. Isso foi realizado por meio das listas nominativas, também chamadas
de maços de população, foram elaboradas, em grande parte, sob a orientação de
uma estrutura militar, as Companhias de Ordenança de terra. Porém, já no século
XIX, sua finalidade não era apenas atender às demandas da Bacia do Prata e à
organização econômica de São Paulo. O levantamento de dados da população foi
feito quase que anualmente pelas milícias constituídas por Companhias, através
dos capitães-mores, sargentos de milícias e cabos de esquadra (BACELLAR, 2015, p.
315-316).
Vale
dizer que o potencial da metodologia nominativa não reside no simples
delineamento da trajetória do indivíduo, mas no momento em que se extraem de
sua experiência ensinamentos sobre a sociedade do qual ele faz parte. Dito
isso, deixa-se mais claro o papel central que a reincidência dos cativos nas
senzalas de Campinas nas diferentes listas nominativas, pois apenas assim é que
esta investigação poderá criar um quadro amplo do que teria sido a trajetória
de vida de cada um desses indivíduos ao longo dos anos. Também por isso se
escolheu trabalhar com todas as listas nominativas do período, pois caso se
utilizasse apenas uma lista com um determinado intervalo de tempo, poder-se-ia
incorrer em equívocos na continuidade das escravarias, já que existem
escravizados que saem em alguns anos e voltam posteriormente a aparecer na
senzala. (BACELLAR, 2008, p. 117).
2. Transformações demográficas na
construção das senzalas de Campinas entre 1790 a 1810
Para a realização desta pesquisa
observou-se todas as listas nominativas de habitantes de Campinas disponíveis e
fez-se o acompanhamento das escravarias longitudinalmente entre os anos de 1790
e 1810, visto este ser um período crucial para o desenvolvimento da lavoura canavieira
da vila, com os fazendeiros tendo aproveitado a alta no preço da commodity no mercado internacional para
ampliarem suas produções, além da constituição de novos engenhos por outros
sujeitos.
Para selecionar as escravarias que seriam
acompanhadas no tempo, adotou-se o ano de 1790 como base e o recorte de 10
cativos. Em outras palavras, optou-se por acompanhar todos aqueles fogos que
possuíam 10 ou mais escravizados no primeiro ano do estudo pois entendeu-se
que, assim, se trabalharia com todos os grandes escravistas da vila naquele ano.
Foram encontradas cinco escravarias com este perfil descrito, as quais dividiu-se
as escravarias em algumas categorias.
Numa primeira análise geral, percebe-se
dois grupos distintos entre as escravarias: o primeiro, formado pelos
proprietários Antônio Ferraz de Campos, Felipe Neri Teixeira e Joaquim José
Teixeira, os quais viram suas senzalas crescerem ao longo do período
selecionado. Já o segundo grupo, formado por Maria Teresa do Rosário e João Rodrigues da Cunha, viu suas senzalas diminuírem
no mesmo período.
As escravarias do primeiro grupo não
apenas foram ampliadas, como a população acrescida teve um perfil bastante
específico, foram em sua maioria homens jovens, ou seja, o auge da idade
produtiva e da força de trabalho. Peter Eisenberg (1989, p. 326) trouxe à baila
os preços do açúcar branco na praça de Amsterdã, no qual percebe-se um aumento
de 174% no valor do artigo entre 1789 e 1799. Sendo assim, a demografia dessas
escravarias e o aumento no preço do açúcar, evidenciam uma estratégia destes
proprietários em aumentar sua produção, visto serem todos senhores de engenho e
a mão de obra principal no eito canavieiro ser a masculina. Em outras palavras,
foram três sujeitos que aproveitaram a conjuntura de aumento no preço do açúcar
no mercado internacional e prosperaram na economia colonial.
A mesma divisão entre donos de cativos
campinenses realizada anteriormente pode ser feita em relação aos
recém-nascidos nas senzalas, conforme avança a década de 1790, cresce o número
de nascimentos nas grandes escravarias, enquanto no segundo grupo apenas se
mantém. A hipótese principal é que o crescimento do número de escravizados
também tenha gerado um aumento de casamentos e da formação de famílias cativas;
não à toa, a maior escravaria do período estudado, pertencente a Antônio Ferraz
de Campos, possui igualmente a maior média de crianças e recém-nascidos. Porém,
é necessário ressaltar que até o ano de 1798, as informações sobre os casados
não seguem um determinado padrão, ou seja, em alguns anos existem as
informações, noutros somem e voltam a aparecer para os mesmos sujeitos.
Em relação ao número de mulheres
cativas em idade produtiva, é interessante notar que, se comparado anualmente
aos homens, variaram razoavelmente mais no tempo, não mostrando um constante
crescimento entre as maiores escravarias e tampouco um padrão demográfico, com
uma alta mudança na razão de sexo ano a ano nas três maiores escravarias. Por
outro lado, as senzalas de Maria Teresa e João Rodrigues tenderam ao equilíbrio
entre os sexos. A diferença na razão de sexo pode se relacionar ao trabalho na
produção açucareira, já que os homens eram o principal meio de força de
trabalho; assim, se sugere que a economia campinense que se encontrava em plena
expansão voltada para o mercado internacional após 1790, a escolha dos
proprietários de terras que procuraram expandir suas produções foi a de manter
e focar seus recursos prioritariamente em escravizados homens jovens e não em
mulheres.
3. Ruptura ou continuidade nas senzalas?
Como dito anteriormente, é inviável uma
pesquisa comparativa sobre a continuidade ou não dos cativos, pois não fez
parte da historiografia uma discussão sobre esse tema; exceção foi o artigo
“Sobreviver na senzala: estudo da composição e continuidade das escravarias
paulistas, 1798-1818”, de Carlos Bacellar e Ana Volpi Scott, publicado em 1990.
Nesse texto, os autores trabalharam com os resultados de suas respectivas
dissertações de mestrado, discutindo as listas nominativas de 1798, 1808 e
1818, das vilas de Atibaia, Mogi das Cruzes, Santana de Parnaíba, São Roque,
Nazaré e Itu, comparando as economias não-exportadoras das primeiras vilas com
Itu, uma economia voltada para a produção açucareira.
As cinco escravarias selecionadas
apresentam casos de ruptura e continuidade. Antes de entrarmos em suas
especificidades, é relevante ressaltar a dificuldade no acompanhamento desses
cativos. Como dito anteriormente, as idades dos sujeitos variam muito nos
documentos, não apenas dos escravos, mas inclusive dos livres – pobres ou
ricos. Essa característica da documentação da época aumenta a dificuldade no
acompanhamento das senzalas, pois ela se integra à outra característica: os
escravos são identificados, na maior parte dos casos, apenas pelo primeiro
nome. Dessa forma, por vezes encontram-se vários escravos na mesma senzala com
o nome Antônio e idades similares, quando se analisa a lista nominativa
seguinte, as idades variam bastante, gerando o questionamento se seriam os
mesmos ou quem sabe outros que teriam sido adquiridos. Procurou-se, assim,
realizar o acompanhamento levando em conta cada senzala e, apesar das
dificuldades, muitos cativos conseguem ser acompanhados durante todo o período.
O primeiro fator em comum que se
observa no gráfico 1 é que em todas as escravarias analisadas existem sujeitos
que permaneceram por todo o período analisado, em números significativos.
Excetuando as cativas mulheres de João Rodrigues da Cunha, ao menos 50% dos
cativos homens de todos os senhores continuam entre 1790 e 1810. Fenômeno que
chama a atenção é a ausência de escravos em determinadas listas nominativas,
eles somem e voltam a aparecer posteriormente – deve-se lembrar o ano de 1791
em que somem todas as mulheres dos fogos dos irmãos Teixeira, as quais retornam
em 1792. É o caso, por exemplo, de Escolástica, cativa de Antônio Ferraz, na
primeira lista nominativa ela possuía apenas algumas semanas e cresce na
senzala, possuindo em 1800 a idade de 8 anos, segundo a lista; porém ela não
aparece na lista de 1797, levantando o questionamento sobre presença na
senzala, com a possibilidade de ter sido esquecida pelo recenseador ou se
existe a possibilidade de que naquele ano ela não estivesse presente na escravaria.
Bacellar e Scott encontraram questão parecida, afirmando que “muitos escravos
desaparecem bruscamente do plantel, seja pelo falecimento, pela venda ou mesmo
por haverem sido enviados a uma outra propriedade do mesmo senhor – a causa é
difícil de ser precisada” (BACELLAR; SCOTT, 1990, p. 215).
É
relevante discutir sobre a existência de um possível padrão demográfico dessa
população escrava que permanece nas senzalas campinenses. Nesse sentido, são os
homens que representam o maior percentual dos cativos que continuam nas
senzalas ao longo das décadas e 1790 e 1800. Ressaltando as escravarias dos
irmãos Felipe Neri Teixeira e Joaquim José Teixeira, os quais mantêm,
respectivamente, quatro cativos (50%) dos oito presentes em 1790 e também
quatro cativos (66,6%) dos seis iniciais.
Ao observar das idades dos cativos
também se destaca aspectos relevantes, pensando, principalmente, na alta
mortalidade, pois o que se encontrou foram cativos já adultos, porém jovens,
como característica do perfil demográfico na continuidade nas senzalas.
Percebeu-se que escravizados com mais de 40 anos foram a exceção em permanecer
por longos períodos, o que pode ser explicado não apenas pela mortalidade, mas
pela estratégia senhorial que naquela conjuntura econômica de expansão da
lavoura decidiu renovar sua mão de obra. Quanto aos casados, para a década de
1790 é difícil precisar se tiveram maior continuidade que os solteiros, pois as
informações parecem estar com qualidades distintas. Já no início de 1800 a
mobilidade de escravos casados é menor e apresentam maior taxa de permanência,
contudo, pode ser um movimento natural, pois aqueles que se encontram há mais
tempo na mesma propriedade também tiveram mais oportunidades para casamentos.
A única senzala que contém informações
sobre os casamentos durante todo o período é a de Antônio Ferraz de Campos e,
nesse caso, pode-se afirmar que a união matrimonial, ou seja, a formação de
famílias, facilita a continuidade desses sujeitos na senzala, isso porquê
daqueles 10 escravizados casados em 1790 (do total de 27), 9 permanecem na
mesma senzala em 1800 – sendo que continuaram para o mesmo período 18 escravos.
A hipótese é de que João, o único cativo casado que não chegou em 1800, tenha
falecido em 1796, visto apresentar no ano anterior 61 anos. Pode-se aventar a
mesma hipótese de Bacellar e Scott de que os cativos casados poderiam receber
melhores tratamentos, sejam dos senhores ou mesmo por possuírem familiares
próximos (BACELLAR; SCOTT, 1990, P. 216).
Se a continuidade nas senzalas é
relevante para os estudos da escravidão, as listas nominativas de habitantes
também permitem visualizar as descontinuidades. Este tópico não se estenderá,
contudo, a tabela 2 ilustra que nos 20 anos estudados, passaram mais cativos
adultos pelas senzalas do que o total estabelecido ao final do período.
No caso de Antônio Ferraz de Campos,
viveram ao longo de 15 anos um total de 44 cativos em sua senzala, enquanto a
de Joaquim José Teixeira parece ter tido uma circulação bastante maior, com 58
adultos no total, para formar uma senzala de 37 cativos. É possível entender
que as maiores escravarias também tenham passado por maiores instabilidades,
argumento respaldado pelos casos de Maria Teresa do Rosário e João Rodrigues da
Cunha, os quais têm pouca movimentação dentro de suas senzalas, são os únicos,
aliás, que diminuem a mão de obra escrava – sendo, possivelmente, este o fator
determinante para uma maior porcentagem de escravos de 1790 presentes e 1810,
visto que não teriam capital para investir em novos cativos, prezaram por
aqueles poucos já existentes.
A razão para a saída dos escravizados
das senzalas não pode ser precisada utilizando-se apenas as listas nominativas,
pode ter sido por fugas, mortes ou vendas, porém, sugere-se que essa
descontinuidade nas escravarias menores possa revelar uma preferência senhorial
por aqueles escravizados antigos, visto que os já poucos novos escravos de João
Rodrigues e Maria Teresa somem rapidamente da documentação, permanecendo, em geral,
os cativos mais antigos.
4. Considerações Finais
A grande expansão da lavoura canavieira
que ocorreu a partir da década de 1790 trouxe transformações profundas à
Campinas, sua população cresceu enormemente, especialmente no número de
escravizados, bem como de sua exploração no ritmo de trabalho. Este texto
propôs uma análise longitudinal das cinco maiores escravarias dessa vila entre
1790 e 1810, a fim de entender a montagem dessas senzalas nesse período de
expansão, as acompanhando por 20 anos. Apesar dos resultados serem iniciais,
pode-se observar a continuidade de cativos dentro da mesma senzala, ao
contrário do que se poderia imaginar – seja pela alta mortalidade ou mesmo
venda. Assim como a importância dos escravos presentes no início da expansão
canavieira no desenvolvimento daqueles engenhos, visto existir uma razoável
circulação de escravos nas senzalas, porém, com alguns cativos presentes em
todos os anos.
Deve-se ressaltar que a dimensão das
escravarias analisadas, superiores à média do período, bem como a longevidade
dos proprietários – levando o processo sucessório ser mais tardio – favoreceram
o processo de estabilidade dentro dessas senzalas. Entretanto, estas tentativas
inicias de acompanhamento foram ricas ao possibilitar refletir sobre a
continuidade dos cativos numa mesma escravaria, o que pode levar no
aprofundamento da pesquisa e discutir as possibilidades e limitações da
continuidade nas relações familiares e de compadrio dentro do sistema
escravista de uma vila em expansão açucareira.
5. Bibliografia
Mestrando em História
Social pela FFLCH/USP, sob a orientação do Dr. Carlos de Almeida Prado
Bacellar. Contato: carlos.nicolette@usp.br. Agradeço à CNPq pelo financiamento inicial de minha
pesquisa de mestrado e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
pelo auxílio atual sob o processo nº 2018/05314-7.
5.1 Fontes
LISTAS NOMINATIVAS DE HABITANTES. JUNDIAÍ. São Paulo:
Arquivo Público do Estado de São Paulo. Acervo Manuscrito. Anos: 1790, 1791,
1792, 1793, 1794 e 1796.
LISTAS NOMINATIVAS DE HABITANTES. CAMPINAS. São Paulo:
Arquivo Público do Estado de São Paulo. Repositório Digital. Anos: 1797, 1798,
1799, 1800, 1801, 1803, 1804, 1805, 1806, 1807, 1808, 1809 e 1810. Disponível
em: http://www.arquivoestado.sp.gov.br/
site/acervo/repositorio_digital/macos_populacao. Visto em: 10/01/2019.
5.2 Referências Bibliográficas
BACELLAR, Carlos de A. P. As listas
nominativas da capitania de São Paulo sob um olhar crítico (1765-1836). Anais de História de Além-Mar. Vol. XVI:
313–338, 2015. Disponível em: <https://run.unl.pt/handle/10362/19813>.
Acesso em: 09/01/2019.
BACELLAR, Carlos de A. P. Arrolando
os habitantes no passado: as listas nominativas sob um olhar crítico. Locus:
revista de história. Juiz de Fora, v. 14, n. 1, 2008. Disponível em:
<http://www.ufjf.br/locus/files/2010/02/55.pdf>. Acesso em: 06/02/2019.
BACELLAR, Carlos de A. P.; SCOTT, Ana
Silva Volpi. “Sobreviver na senzala: estudo da composição e continuidade das
grandes escravarias paulistas, 1798-1818”. NADALIN, Sergio Odilon; MARCÍLIO,
Maria Luiza; BALHANA, Altiva Pilatti (Orgs.). História e população: estudos sobre a América Latina. São Paulo:
Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados, 1990.
EISENBERG, Peter. Homens esquecidos: escravizados e trabalhadores livres no Brasil,
séculos XVIII e XIX. Campinas: Editora da Unicamp, 1989.
Olá, Carlos!
ResponderExcluirParabéns pelo ótimo texto. Estudos nessa linha nos permitem compreender as minúcias da montagem de um dos principais motores econômicos da história paulista, e que marca até os dias de hoje a sua paisagem produtiva.
Gostaria de saber se, durante suas análises das listas nominativas, você conseguiu identificar a existência de alguns grandes proprietários de escravos (considerando o recorte escolhido de dez cativos) que se dedicavam à produção de gêneros para o mercado de abastecimento regional. Se sim, é possível notar um contraste qualitativo significativo entre as escravarias pertencentes aos grandes plantadores de cana e os demais senhores de escravos campinenses (os referidos roceiros que integravam o mercado de abastecimento, etc)?
E uma outra questão, relacionada a primeira: em suas pesquisas, foi possível identificar a presença de algum efeito multiplicador provocado pela expansão da cultura canavieira nos demais setores da economia da vila?
Desde já, agradeço!
abraços,
Diego.
Olá, Diego!
ResponderExcluirAgradeço as perguntas, é sempre muito instigante discutir as transformações socioeconômicas ocorridas em São Paulo no decorrer de sua história. Quanto à primeira questão, devido à dimensão da análise – cinco proprietários de cativos – é difícil notar um padrão comparativo entre roceiros e plantadores de cana, porém, a dona de cativos Maria do Rosário (a única que não plantava cana) demonstrou dificuldades ao longo do tempo em adquirir cativos. Enquanto o perfil demográfico das senzalas dos 3 senhores que desenvolveram seus engenhos mostrou a tendência em adquirir cativos homens jovens.
Quanto à questão segunda, é interessante notar a associação direta entre açúcar e escravidão em Campinas, mas não só, houve também transformações relevantes na formação das famílias livres. As pesquisas de Paulo Eduardo Teixeira e Laura Fraccaro mostraram muitos conflitos por terra e transformações na formação dos livres e libertos da vila. O que encontrei na pesquisa que se desenvolve é uma migração relativamente alta para Campinas no mesmo período do boom do açúcar, muitos sujeitos que mudam com suas famílias para serem pequenos roceiros, na parte das vezes até mesmo sem cativos – o que provavelmente indica que estavam em propriedade alheia, mas eram identificados com fogo próprio, uma questão que precisamos sempre estar em mente ao utilizar as listas nominativas como fonte única.
Um abraço,
Carlos Eduardo Nicolette
Boa noite,
ResponderExcluirGostaria de saber porque da escolha dessa região de Campinas para este estudo.
Obrigada
Olá, Christiane, obrigado pela pergunta!
ResponderExcluirCampinas apareceu enquanto pesquisei Itu em minha iniciação científica. Ao estudar a região do oeste Paulista, percebi na historiografia um vazio sobre a expansão açucareira campinense entre 1790 e 1810, justamente um momento crucial para a formação dessa região. Além disso, minha pesquisa tem possibilitado trazer à baila uma análise serial da população livre e cativa de Campinas, utilizando 19 listas nominativas de habitantes anuais e completas para um período de 20 anos.
Um grande abraço,
Carlos