“LUTA E APRENDIZAGEM”: VALORIZAÇÃO DA IDENTIDADE AFRO-BRASILEIRA NO COLÉGIO MILITAR TIRADENTES EM CAXIAS-MA

AYRTON COSTA DA SILVA
CAMILA JOSEANE E SOUSA RIOS COSTA
MIRIAN DA SILVA COSTA


O presente trabalho faz parte de um projeto desenvolvido numa turma do Colégio Militar Tiradentes na cidade de Caxias-MA, com a proposta de levar a cultura afro-brasileira para a escola, uma das maneiras de buscar o respeito e a valorização da própria história brasileira para com o negro, fazendo reflexões destas expressões culturais, já que, estão inseridos no cotidiano dos educandos, sejam elas em atividade escolar, familiar, em roda de amigos, nas religiões, nas músicas, na linguagem, na estética, na culinária e nas danças.

 Mas o que é ser negro em uma sociedade como a atual? Porque existe discriminação racial, já que, somos todos iguais perante a lei? Essas e muitas outras indagações permeiam o nosso imaginário. Assim, o artigo buscou contemplar a valorização da identidade afro-brasileira, e teve por objetivo, fazer uma conscientização e fomentar o olhar crítico através dos relatos e fatos históricos, desde já fazendo uma reflexão com a conjectura do presente. Já que “o Brasil figura no âmbito internacional e nacional, como um país cuja marca maior seria a plurietnicidades e multiculturalidade”. (LIRA. MELLO. 2017 p. 679). Levando em conta essas questões o combate ao preconceito contra as culturas africanas na escola foi muito positivo com as implantações da lei sancionada durante o governo Lula.

Com “[...] à aplicabilidade da lei n. 10.639/03. O desafio de superar limitações provenientes da falta de conhecimentos da história e das culturas africanas e afro-brasileiras, especialmente, na escola, é fulcral na formação, hoje, considerando o fosso entre as politicas educacionais de Estado e a sua implementação, especialmente no que tange à adequação da formação inicial dos professores e à obrigatoriedade do ensino de história e Cultura Africana e Afro-Brasileira nos currículos escolares das redes publicas e privada de ensino”. (LIRA. MELLO, 2017, p. 679).

Embora os educandos entendam todo o processo histórico, dos movimentos imigratórios forçados dos negros do continente Africano, que fez parte do processo de colonização da História deste Brasil, foi marcado pela resistência de liberdade e de luta contra a classe dominante. Temos enorme dificuldade em erradicar discursos de inferioridade contra o outro, uma vez que “cotidianamente no Brasil; negros, indígenas e outras categorias sociais excluídas são vitimados pelo preconceito e discriminação nos mais diversos espaços sociais” (LIRA. MELLO, 2017, p. 679). Desde que, não é raro nos depararmos com heranças negras, em suas multiplicidades de expressões e manifestações.

Assim foi fomentado aos educandos o respeito às heranças deixadas pelas culturas negras, mas também foram discutidos temas que presenciamos no cotidiano, temas que envolvem questões de discriminação racial, de classe, da cor da pele, que se tornaram mecanismos, uma camuflagem, de mascará uma realidade do cotidiano da sociedade brasileira, que estes, por sua vez, são estereótipos utilizados para ver o negro como um inferior, o desigual.

 Diante desta análise, partimos do pressuposto de pensar o negro na atualidade, embora, o assunto já vem sendo abordado e discutido em vários trabalhos acadêmicos. Mas porque ainda persistem cenas de discriminação? No Brasil, quase sempre nos deparamos com os noticiários de tevê e/ou no dia a dia, com cenas grotescas de racismo, é árduo para uma pessoa de pele negra se posicionar diante de um contexto de reivindicação contra seus direitos, um exemplo nítido foi caso da vereadora Marielle Franco assassinada no Rio de Janeiro.

Outro tema que chegar a gerar dúvidas, polêmicas são os sistemas de cotas, na qual o negro, para adentrar na Universidade, precisa ser submetido. Tendo em vista as realidades mencionadas acima, foram discutidos, no projeto, sobre a valorização da identidade afro-brasileira, fazendo com que os educandos possam refletir e se conscientizarem sobre o mesmo.

 “Compreender o mundo, compreender a sociedade, compreender a si mesmo e compreender as relações socioculturais deve ser competência necessária no processo de ensino aprendizagem. Embora não seja fácil, nem para os professores nem para os alunos, é possível apreender a ser mais quando se aprende a conhecer a fazer e a viver com outros, especialmente, no direito á diferença no contexto do multiculturalismo. A escola é o espaço em que deve envolver os alunos na construção de saberes que garantam a igualdade, do ponto de vista do exercício da cidadania e da diversidade como direito”. (LIRA, 2017, p. 681).

DISCUTIDO IDEIAS DE PRENCOCEITOS DE RAÇA E CLASSE

O Afro-brasileiro, ou seja, a cultura Africana no Brasil foi uma transposição de costumes e heranças. No passado, no período colonial o negro foi o braço direito do êxito da empresa luso brasileira, vieram trabalhar nas fazendas, lavouras, mineração, afazeres domésticos. O negro desde o princípio sofreu preconceitos, não tinham direitos, mesmo que tendo existido algumas leis, como a Lei Ventre Livre, Lei do Sexagésimo e a abolição da escravatura concebida em 1888. Entretanto, esse fim do regime, não garantiu e nem assegurou seus direitos. Ainda prosseguindo com o século XIX, o preconceito era latente, advindos das elites brancas, que começavam a propagar discursos racistas, para com, o negro.

“[...] 1-no tocante à espécie humana, não existe ‘raça’ biológica, ou seja, não há no mundo físico e material nada que possa ser corretamente classificado como ‘raça’; 2-o conceito de ‘raça’ é parte de um discurso científico errôneo e de um discurso político racista, autoritário, anti-igualitário e antidemocrático; 3-o uso do termo ‘raça’ apenas reificar uma categoria política abusiva” (GUIMARÃES, 2012, p.48-49).

Logo, foi incentivando aos educandos a tentar reeducar o olhar e os discursos dos termos “raça” branca e negra, “não existe, é uma invenção”, uma construção humana, um discurso produzido no século XIX, um dispositivo utilizado nas políticas imperiais como mecanismo de dominação do outro. Já por volta do século XX, com o advento das políticas republicanas, aparece novamente à discriminação contra as pessoas de pele negra, com ideias de branqueamento da população, higienização dos centros das grandes cidades, recolocando o negro em lugares como periferias, favelas. Já que, o período republicano circulava as ideias de progresso, que o país precisava ser civilizado e industrializado.
                                              
Nesse contexto, ficam nitidamente atreladas as ideias de classe, já que o negro só fazia parte do sistema econômico brasileiro, mas, também, temos algumas exceções de negros que se tornaram escritores, muitas das vezes eram os que moraram com os senhores. Mas ademais, o sistema era sempre ver o negro como ser inferior, é obvio que são ideias de um discurso dominador no período em vigência, já que em meados do século XIX, do imaginário da elite branca, viam o negro como algo perigoso, que não podiam se misturar. Embora, o termo “classe” era utilizado como instrumento de poder, discriminação, pois, define o nível que os indivíduos se encontram.

“[...] o termo “classe”, utilizado dessa maneira, passa a significar, ao mesmo o tempo, condição social, grupo status atribuído, grupo de interesse e forma de identidade social [...] “classe” não é concebido como podendo referir-se a uma identidade social ou a um grupo relativamente estável, cujas fronteiras sejam marcadas por forma diversas de discriminação, baseadas e atribuídos como a cor [...]” (GUIMARÃES, 2012, p.47)

É comum pensarmos e discriminarmos através da classe: rica e pobre, o negro sempre foi tratado desta maneira, a questão da cor está ligada diretamente com a discriminação de raça, racismo ou também “mito das três raças: branca, negra e indígena”, partindo deste pressuposto o termo “raça”. Foi incentivado aos alunos a rever esses discursos que se propagaram ao longo do tempo.

MOVIMENTOS NEGROS E A CULTURA AFRO-BRASILEIRA.

As discussões que envolvem os movimentos por liberdade dos negros, sempre foram marcadas por lutas na história do Brasil, movimentos de resistência de “Zumbi de Palmares”, As revoltas da “Balaiada”, dos “Males”, que foram genuinamente movimentos negros. Com o emergir dos anos 1930, no governo Vargas o movimento de discriminação muda rapidamente, ou seja, amenizaram devido à larga produção intelectual. Em vez de um discurso racial, cria-se a ideia positiva da mestiçagem no Brasil, tendo o esforço dos intelectuais, tanto no campo da literatura, música, arte etc., para a história brasileira.

“Contudo, estereótipos e preconceitos raciais continuariam atuantes na sociedade brasileira durante todo o período, intervindo no processo de competição social e de acesso às oportunidades, assim como influenciados no processo de mobilidade Inter geracional, restringindo o lugar social dos negros” (THEODORO, 2012, p.52).

Como se percebe, as desqualificações era um fator de desigualdade no mercado de trabalho, as oportunidades sempre foram diferentes, além da pobreza que muitas dessas pessoas constituíam, ou seja, não passou de um mascaramento das discriminações diante dos negros. Até que volta dos anos 1970, ocorre o movimento negro, passaram a protestar contra as desigualdades e mobilização social. Já que, a cor representava um critério de seleção no mercado de trabalho etc. Durante todos esses movimentos por melhores condições de vida e de igualdade e valorização da identidade negra.

“Pela primeira vez no Brasil a defesa de uma posição quanto à ‘raça à classe’ não foi marginalizada pela intelectualidade afro-brasileira e, na verdade, passou a suplantar os modelos conformistas e assimilacionista como postura dominante do movimento negro” (DOMINGUES, 2006, p.113).

 Os movimentos negros ganhavam força a partir deste período, mas antes já havia certos movimentos como o Movimento Negro Unido - MNU, o protesto contra o racismo, desigualdade, condições de mobilidade social. Logo, com as constantes lutas em prol de seus direitos, acabou conseguido colocar no calendário datas de memória e valorização das identidades negras, como 13 de maio, marcado pela abolição da escravatura, mas é marcado como dia Nacional de Denúncia contra o Racismo. A outra data é de 20 de novembro dia da Consciência Negra, como protagonista Zumbi de Palmares escolhido como símbolo de resistência à opressão racial.

Todos estes movimentos buscam compreender a igualdade e respeito, para com os negros. Assim, a partir destas ideias, a luta pela cultura afro-brasileira. Devido aos problemas e visando o bem comum foi aprovada pelo próprio MEC - Ministério da Educação e Cidadania, para o ensino de História, a valorização e o respeito às expressões da cultura afro-brasileira, legalizados pela lei 10.639/ 2003 nos artigos 26-A: “Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficinas e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e cultura afro-brasileira.” (BRASIL, 2003). A lei exige a inclusão da História afro-brasileira, nos ensinos educacionais do país, para que, possam romper os preconceitos e luta pela igualdade.  

Como resultados, o Projeto obteve êxito, nossos objetivos foram alcançados. As atividades foram realizadas com a divisão de grupos, para fazerem uma pesquisa sobre as culinárias, danças, religiões e estética. Cada grupo confeccionou o material da pesquisa e apresentou para os colegas. Apesar de ser um projeto simples, tivemos pouco tempo para a sua realização, a intenção foi levar aos educandos o respeito às culturas afro-brasileira e também como um instrumento de aprendizagem de valorização e de respeito para com a nossa própria história.

Portanto, o Brasil é um espaço de cultura das mais variadas expressões, que ao longo do tempo foram sendo implantadas em nosso cotidiano, sejam elas na religião, na música, nossas maneiras de expressar as palavras, nas questões estéticas atuais, além da culinária. Todas essas tradições estão vivas em nosso dia-a-dia, conquistaram um espaço que foram sendo atribuídos as mais valiosas e identidades negras, e cabe a nós brasileiros prestigiar, valorizar e acima de tudo respeitar.


REFERÊNCIAS

Ayrton Costa da Silva, acadêmico do Centro de Estudos Superiores de Caxias-CESC/UEMA. Bolsista PIBIC-UEMA. É integrante do grupo de Estudos de Justiça no Maranhão colonial.  Mirian da Silva Costa e Camila Joseane e Sousa Rios Costa também são acadêmicas do Centro de Estudos Superiores de Caxias-CESC/UEMA. Curso História. Ayrton e Mirian, Ambos os autores são Professores do Pré-vestibular Revisão para o Enem.

BRASIL, Constituição. 2003

DOMINGUES, Petrônio. Movimento Negro Brasileiro: alguns apontamentos históricos. In. tempo. V. 12. n 23. A. 07. p. 100-122. 2006. Disponível em: www.scielo.br. acessado em: 29/06/19.

GUIMARÃES, Antônio Sérgio Alfredo. Classes, Raças e Democracia. Ed. 34. São Paulo. 2012.

LIRA, Rozalvez de. MELLO, Maria do Carmo de. Ensinar história com religiosidade: afrodescendentes e a lei n. 10.639/03. Revista retratos da Escola, Brasília, v.11, n. 21, p.677-695, jul./dez. 2017. Disponível em:<http//www.esforce.org.br>. acessado em: 27/06/19.

THEODORO, Mário (org.). As políticas públicas e a desigualdade racial no Brasil 120 anos após a abolição. IPEA, Brasília, 2008.

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